domingo, 28 de fevereiro de 2010

O Hino Nacional

Não me esqueço do discurso de 10 de junho de António Alçada Baptista, em 1997 na Cidade de Chaves em que, já na parte final do seu texto ( que tenho comigo ) lembrou a incongruência das palavras do Hino Nacional em relação a Valores atuais de Diálogo e de Tolerância.

Dizia ele, nos seu Discurso, feito perante as mais altas Autoridades Institucionais da Nação, que gritar «às armas, às armas» e «contra os canhões marchar, marchar», e fazer cantar isso à juventude não faz sentido numa Cultura de Entendimento, de Compreensão, de Não-Agressão.

É difícil não lhe dar razão.

Aliás o mesmo se passa, por exemplo, com a Marselhesa. E com outros. Um Hino Nacional com uma letra desfaza em relação ao tempo em que vivemos fica sem significado.

Mas aquele discurso foi uma voz isolada. Talvez muita gente concorde com ele. O certo é que as reações por parte das Entidades oficiais foi de frieza. "Não se toca nos símbolos da Pátria, nem na Bandeira nem no Hino.

A mim o que me preocupa mais é a dicotomia entre o professar e o pensar, entre o que se diz, ou o que se canta, como neste caso, e aquilo de que se está convicto.

Porque está em causa uma questão de hipocrisia. Simplesmente !

Julgo que esta é uma vertente significativa da nossa Cultura : eu grito «às armas, às armas» mas não estou minimamente interessado em fazê-lo, em concretizá-lo. Serei até contra. É apenas uma expressão "simbólica" sem força pragmática.

Uma coisa será então o que digo. Outra o que penso... !

Essa duplicidade é assim transmitida na Família, na Escola, na Sociedade e até na vida religiosa. Mais ou menos subliminarmente.

Está errado.

Não posso pôr-me a cantar em termos laudatórios ou apelativos algo que no fundo repudio e combato.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Intolerância em Portugal

Saiu em outubro de 2009, pelo Círculo de Leitores um livro muito interessante sobre Intolerância em Portugal, "Dança dos Demónios", com uma dezena de estudos sobre a intransigência em relação a diversas correntes ideológicas.

Interessou-me particularmente o Anti-Semitismo e o Anti-Protestantismo. Este último do Prof João Francisco Marques da Universidade do Porto, que me pareceu muito informativo.

Transcrevo agora, e apenas por curiosidade, uma linhas deste segundo texto, o quarto dos dez que constituem o livro.

Dom Jerónimo Osório, bispo de Silves, figura destacada da Cultura portuguesa do séc. XVI escreveu assim referindo-se aos Evangélicos/Protestantes ( Pág. 213 ) :

«(...) Homens verdadeiramente audaciosos, presunçosos, soberbos...amordaçam a razão humana, roubam a liberdade de opinião, agrilhoam a vontade...esses homens evangélicos fomentam a missão do Diabo...o ódio da Cruz que esses autores da pestífera novidade abertamente sustentam...obcecados pelo seu amor próprio...»

Mas deste estilo lemos mais, muito mais. Neste e nos séculos seguintes !

Na altura o analfabetismo era geral e a única voz que se ouvia falando em nome da religião cristã era a destas homílias mas missas.

Com textos e prédicas deste teor da parte de um bispo com responsabilidades, no que era acompanhado por muitos outros, não admira que a Reforma não tivesse chegado até cá, em Portugal, num século do Renascimento e de emancipação intelectual.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Pausa

Preocupações com problemas físicos, de saúde, será que reduzem, em geral, a fluência na reflexão e na arrumação das ideias ?

Não sei. Falo pelo que sinto quanto a mim.

O que acontece e deve acontecer com muitas gente, é que, quando se passa por situações físicas de cuidado, a mente está mais concentrada numa determinada área de preocupações e não está livre de divagar ou de refletir sobre outros assuntos.

Mas o facto de estar a escrever sobre isto mesmo é sinal de que me sinto capaz de reflectir com certa autonomia em relação às circunstâncias físicas que me têm limitado, embora as preocupações se mantenham.

As capacidade para a reflexão é um dom do Criador. E de alto valor !

Por um lado ajuda-nos a ver claro e a não nos deixarmos ir à deriva, desde que não nos faltem referentes sólidos que garantam um pensamento equilibrado e são...

Por outro é uma "fuga", ou antes uma deriva à concentração numa só área, sobrecarregando o espírito de cuidados.

E como cristãos não nos faltam pontos de apoio para uma reflexão confiante e saudável.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Prestar contas...

Deixo aqui este conhecido soneto, que me foi sugerido pelo meu Primo ( vive no Brasil ) João Armando Coelho.
Deus pede estrita conta do meu tempo
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta.
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta;
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Hoje, quero acertar conta, e não há tempo.

Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta!

Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo...
Frei António das Chagas - Século XVII

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Cristão e a preocupação ambiental


Tanto quanto sei avaliar, os ambientalistas têm como fundamento básico para a sua militância um princípio de sobrevivência da Humanidade. "A Terra é o nosso único Lar". Portanto, quanto mais depressa a poluirmos, a dissiparmos, a destruirmos tanto mais rapidamente desapareceremos.

Têm razão, com certeza.

Há certamente gente que se multiplica em cuidados com a Natureza por outras razões : porque é bela, porque nos dá coisas fantásticas e boas. Ninguém os critica. Outros têm para com a Natureza um respeito com laivos de culto pagão. Ou animista. Ela é, para esses, como que um deus ou a manifestação de um deus. São espiritualidades de tipo "nova era".

Os cristãos também velam e zelam pela Natureza. Animais incluídos, claro.

Mas aí acabamos por constatar uma especificação básica : os cristãos estão preocupados com a Natureza, solidarizam-se com todas as medidas que induzam à sua protecção, ao seu respeito, identificam-se com todos os que lutam contra a poluição e contra a dissipação desse Património riquíssimo em fontes e recursos vitais, mas frágil porque é fácil destruí-la em muitos domínios naturais. No entanto fazem-no por razões que conotam com o respeito pelo Criador e por princípios bíblicos.

Deus criou o mundo. E declarou que era bom. Ou antes : muito bom. Coisa que não é difícil de reconhecer... E deu à Humanidade a responsabilidade de cuidar dela ! Génesis 1 : 28.

E aqui está ! Trata-se então de assumir um economato !

Não me digam então que a posição dos cristãos não é mais coerente, mais sólida, mais bem fundamentada !

E também menos egoista, menos interesseira, menos calculista.

Também não é gratuita. Tem um retorno : a satisfação de um mandato que é cumprido. O prazer de fazer o que é recto à luz de um código divino.

João Calvino escreveu, num Comentário ao livro de Génesis, que "cada um de nós é o ecónomo de Deus em tudo o que lhe é dado". Eu diria antes «em tudo o que lhe é emprestado» ! Temos como que devolver ou antes, que dar conta de tudo ao Proprietário, bem cuidado e tratado...

O distraimento desse objectivo, o incumprimento desse mandato divino como ecónomos responsáveis ( não só da Natureza mas de muita coisa mais... ! ) é uma expressão da rotura na relação do Ser humano com Deus. A Bíblia chama-lhe pecado.

A Redenção dessa fractura na vinculação Ser humano/Deus não atinge apenas os humanos. Abrange o mundo criado.

Esse Universo que saiu do Poder criador supremo expressa o "intelligent design" e a inteligência fecunda de Deus nosso Pai e Redentor ( por Jesus Cristo ).

Mais do que ninguém, os cristãos são chamados a mudar de estilo de vida, e a corrigir, a rectificar comportamentos que agridam ou não considerem, no devido grau, a Criação !

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Fé e... sorriso.

O riso é a expressão fisionómica de um estado de espírito decorrente de um regozijo intenso ou do estímulo de algo de ridículo ou de uma situação inesperada num quadro de normalidade.

Mas o sorriso, esse, tem origem em situações bem mais alargadas. É um sinal basicamente de satisfação.

Jesus Cristo riu ? Sorriu ?

Vejo-o muito bem em criança rindo abertamente, em gargalhadas sadias.

Em adulto não sabemos. Mas não há razão nenhuma para que não tivesse sorrido e rido ! Era em tudo como nós ! Menos no pecado.

Em todo o caso chorou... ! João 11 : 35.


Jesus terá sorrido, por exemplo, de satisfação perante alguém respondendo de forma ajustada ao seu pensamento. Com certeza que sim.

Terá sorrido ao dizer a alguém : «Vai, não peques mais !». Ou : «Estás curado !». «Pega na tua cama e anda !». Deve ter sido habitual, no seu rosto, o sorriso !

No Velho Testamento a ideia de riso é por vezes associada à de recusa ou de condenação. É o riso / sorriso face à desconformidade do que é injusto aos olhos de Deus. Por exemplo Provérbios 1. 26.

Houve há poucos anos um grupo carismático no seio do qual se pensava expressar a acção do Espírito de Deus rindo às gargalhadas e caindo no chão. Julgo que desapareceu. E ainda bem.

Cristãos sombrios, carrancudos, isso não é coerente com a felicidade da Fé em Cristo.

Também o não será um ar de frivolidade, de superficialidade.

Mas julgo que como Discípulos exteriorizamos a nossa alegria e gozo da Fé tanto mais quanto conscientes estamos dos benefícios e dos privilégios da nossa vida espiritual !

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Globalização e Valores

Segundo Anthony Giddens, um Professor de Economia em Londres, vivemos um período, histórico, de transição, muito importante. Mesmo revolucionário.

As próprias Instituições precisam de ser renovadas.

A Globalização é tão evidente que ninguém a nega aliás.

Mas a ideia que nos fica na mente, a toda a gente, é a de transitoriedade.

Iremos chegar a quê ? Aonde ? Como será a vida e o mundo nas próximas gerações pós-globalização ?

Julgo que poucos há que ousem previsões.

Há sobretudo uma ideia que prevalece.

O Mundo pode evoluir segundo dinâmicas económicas e culturais alargadas a todos os Continentes.

Mas há Valores, Normas e Estruturas que são imutáveis. Porque o ser humano é sempre, essencialmente, o mesmo.

Precisamos dramaticamente de Valores sólidos. Se forem escamoteados ou mal definidos não há sociedade que se mantenha.

Ora, nesse domínio o Professor Giddens claudica... Família, Casamento, Educação de Filhos e conceitos de autoridade, tudo isso está mudando em absoluto. E estamos de acordo.

Só que degradativamente. Não se percebem sinais de um futuro são, para a sociedade previsível segundo as tendências diagnosticadas.

Não se trata de conservadorismo versus modernidade. Trata-se de estabilidade, de coerência, de solidez mental e moral. Trata-se de fundamentos espirituais incontornáveis.

«Na verdade que já os fundamentos se transtornam. Que pode fazer o homem recto ?». ( Na Bíblia, Salmo 11, v.3 )

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Maiorias

Uma das bases definidoras da Democracia é a prevalência da maioria :


Mas é igualmente um sério risco para a sua subsistência e para a manutenção da sua pureza !


É aliás outra fragilidade da Democracia.


Como decidem as maiorias ? Que Valores e que Critérios estão subjacentes às decisões das maiorias ?


Perante a complexidade dos problemas políticos e humanos que muitas vezes enfrentam os cidadãos ou então aqueles que formam o grupo humano que for chamado a pronunciar-se ou a dar o seu voto, como deliberam os votantes ou os eleitores, e as maiorias que daí surgem ?


Toda a gente, com um mínimo de discernimento constata - seja aliás em que regime for mas especialmente numa Democracia - que sem cidadãos e votantes suficientemente informados e esclarecidos as decisões tomadas democraticamente são - ou podem constituir - uma ruína para a comunidade em questão.

Haverá situações em que os eleitores poderão estar motivados por intuitos tão negativos que até na Bíblia lemos este importante aviso, «Não sigas a maioria se for para perverteres o Direito». Êxodo 23 : 3.

Não tem havidos ditadores eleitos democraticamente ?

Nós os cristãos estamos empenhados em que os Valores consignados na Revelação divina estejam na génese do pensamento, das ideologias, e das decisões das maiorias.

Que esse seja sobretudo o suporte da Educação por um lado. E também o das políticas de Desenvolvimento por outro.


Esse Código de princípios é o quadro fundamental de vivência no seio da Família. E na Escola.


É utópico ? Não é.


É uma luta.


Será ganha um Dia.


domingo, 7 de fevereiro de 2010

Tolerância

Estou a ler um livro interessante, «Dança dos Demónios. Intolerância em Portugal». São vários estudos coordenados por António Marujo e José Franco. Círculo dos Leitores, outubro de 2009.

Dizem os coordenadores no Prefácio :

"Hoje vivemos numa sociedade aberta alicerçada em valores como a liberdade, o pluralismo, a tolerância, o respeito pela cultura e pelas crenças do Outro. (...)

E há um perigo, o do surgimento de novas correntes de fanatismo e de ódio".

É verdade.

Mas a própria tolerância pode tornar-se totalitária.

Como ?

Quando os fundamentos morais se esboroam e as pessoas deixam de estar seguras do certo e do errado, da verdade e do erro, à força de relativizar convicções.

A tolerância vai eliminando as fronteiras das ideias seguras, vai condenado o juízo crítico sobre as ideologias dos Outros.

Claro que devemos respeitar as ideias alheias. Como Cristão estou seguro do que é a Verdade que Deus determina.

Mas sou tolerante.

Não deixo é que me imponham uma tolerância que me leve a considerar tudo válido. É essa a tendência atual. É uma distorção.

O respeito pelas ideias dos Outros não implica que as aceite como variantes e alternativas da Verdade, e as assuma como componentes de uma espécie de "Visão Global da Vida" universalizante...

Como Cristão estou seguro da Verdade em Deus, revelada em Cristo e nas Escrituras. Os Cristãos proclamam a Verdade.

Preciso de me sentir livre de fazer proselitismo da minha Fé e das minhas convicções profundas. É o meu direito.

Mas no respeito pelos "Outros". É o meu dever.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O poder da palavra

Vai agora uma pequena poesia em inglês ?

Um POEMA de

Wilbur

The warping night air having brought the boom

Of an owl’s voice into her darkened room,

We tell the wakened child that all she heard

Was an odd question from a forest bird,

Asking of us, if rightly listened to,

“Who cooks for you? and then “Who cooks for you?”

W o r d s, which can make our terrors bravely clear,

Can also thus domesticate a fear,

And send a small child back to sleep at night

Not listening for the sound of stealthy flight

Or dreaming of some small thing in a claw

Borne up to some dark branch and eaten raw.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Crianças e auto-estima

"Tu és bom, Joãozinho. Tu és capaz ! Tu podes !"

Anos de experiência não nos deixam ter ilusões em muitas coisas. Numa delas é quanto à hoje muito badalada auto-estima. As frases acima traduzem a tentativa cândida de muitos responsáveis educativos nesse sentido.

Os moços podem ser vítimas de crises depressivas que requerem - e de que maneira, por vezes ! - cuidados especiais e específicos. Com certeza. Li agora na Focus uma peça jornalística confrangedora sobre o suicídio entre adolescentes ! E até controlados on-line !

Mas também todos os Profs conhecem o tipo de indolente auto-convencido que não aceita a utilidade do esforço e do trabalho. Vai arrastando a sua alegre auto-suficiência. E torna-se um dependente da TV, da Internet, do alcool ( e do tabaco ), da droga, do sexo. Porque se converte num insatisfeito. Carece de uma identidade.

É um quinteto infernal...

Eu sei, eu sei que são situações complexas, as da adolescência. Que cada caso é um caso. Que muitos, na verdade partem logo, já em crianças, da ideia de que não são capazes, de que nada servirá o esforço... Até porque quantos há que ouvem gritarem-lhes isso aos ouvidos, desde novinhos, por pais e familiares impacientes, enervados, stressados.

Precisam de muito apoio

Mas será o convencê-los de que sim senhor, que podem, que são bons, que são capazes e espertos ( sem provas disso... ) que os recuperamos ? Repetir-lhes, como tenho ouvido dizer : "Tu tens de te convencer de que és capaz..."

Estou certo - muitos estamos certos - de que perante um jovem com insuficiências escolares e comportamentais, se conseguirmos motivar esse rapaz ou essa rapariga a trabalhar, com disciplina e com esforço, apoiando-o devidamente, de forma a que consiga resultados encorajadores, ele, ou ela vai melhorar - e de que maneira ! - a sua auto-estima face aos resultados obtidos. E sem falsa noção de si próprio nem da realidade dos factos.

Sei também que os psicólogos escolares competentes é isso que fazem...

E agora numa perspectiva cristã :

Um jovem que é esclarecido objectivamente quanto aos factores reais, espirituais, morais e humanos, que condicionam os resultados do seu esforço e aplicação, e que se entrega conscientemente, inteligentemente, a Deus, esse jovem assumirá um tipo de vida activamente produtiva e fundamentada em Valores sólidos, e verá resultados concretos produzirem-se.

A sua vida é valorizada porque tem Deus como motor vital.

Sabe o que quer, por onde vai. Tem uma identidade, um estatuto próprio na vida.

É isso a auto-estima.