Feriados religiosos
A jornalista Fernanda Côncio escreveu há tempos ( há um ano, em
novembro de 2011 ) um texto no Diário de Notícias comentando, de forma
que nos pareceu clarividente, a justificação - sim ou não - dos
chamados feriados religiosos.
Na altura arquivei esse texto. Reencontrei-o e aqui ficam registadas
duas ou três das ideias básicas do seu comentário, com o meu parecer.
Para já, não há feriados religiosos ( ou seja, "da igreja católica" ) e
feriados laicos. Só há feriados nacionais, que todos devem respeitar.
Então por que razão se insiste em lhes chamar religiosos ( entenda-se "católicos" ) ?
É porque se invoca a Concordata de 2004 com o Vaticano.
Mas esse "concordata" não determina que a lista dos tais dias sejam
feriados. E muito menos obrigatórios. Diz antes que «a República
Portuguesa providenciará no sentido de possibilitar aos católicos o cumprimento dos seus deveres religiosos nesses dias.» (Os sublinhados são meus ).
Ou seja : o dever de ir à missa.
O Estado português acabou por ser mais papista que o Papa e fez desses
dias, de cumprimento religioso para os católicos, feriados nacionais
para todos os cidadãos ! Que abuso !
Claro que é abusivo : Os católicos que cumprem os seus deveres
religiosos são - e cada vez mais - uma minoria. E esses poderão,
sob uma legislação específica, beneficiar de uma tolerância de ponto.
Mas não de um dia inteiro.
Os cidadãos não católicos não têm que ser tidos por respeitar a ideia
que dá razão a esses dias "religiosos". Sendo que até a alguns os
ofende nas suas consciências !
Já não temos uma "religião de Estado". Há muito tempo.
E eu incluiria o Pentecostes e a Ascensão, celebrações tão queridas aos
Protestantes ( e também respeitadas pelos católicos ), mas com
"tolerância de ponto".
Agora : Há feriados de sentido universal e mesmo civilizacional ! São eles o Natal e a Páscoa.
Esses não são meros feriados religiosos. São marcas profundas da configuração cultural da nossa vida nacional !
Seria injustificável que alguma vez eles deixassem de ser feriados.
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Feriados em Portugal
Temos 12 feriados nacionais, neste momento, mais 12 "festas móveis" e
um feriado municipal ( em 18 Concelhos ). Isto, se as minhas contas não
estão erradas...
Dos 12 primeiros, é numa plena consciência de cidadania que celebramos o
25 de abril, o 10 de junho, o 1º de maio. Sem discussão.
O 1º de janeiro também não põe qualquer problema quanto à sua razão de ser, claro !
A Sexta-feira Santa e o Natal, apesar de religiosos são culturalmente
tão justificados que nem vale a pena falar muito neles.
O Carnaval, já outra conversa... É uma estupidez, fazer feriado. Quem
quiser brincar ao Carnaval, que o faça segundo a sua formação, a sua
mentalidade. Mas deixem trabalhar quem quer. A alegria tem outros
fundamentos. Para a brincadeira, para a crítica, para a caricatura eu
prescindo bem do "carnaval".
Ficam 2 feriados civis a que pouquíssima gente liga nos tempos atuais.
Fazem muito poouco sentido para o Cidadão de Hoje, no séc. XXI : a
Implantação da República, a 5 de outubro, e a Restauração da
Independência no 1º de dezembro.
Sobretudo este último. Eu, pessoalmente, sinto repúdio em ter, todos
os anos, de me lembrar e de lembrar a todo o mundo, que já fui, uns
tempos, durante uns anos, dependente dos espanhóis; e que agora já não
sou... ! Não. Não tenho satisfação nenhuma de cidadania - por muito
até que eu possa gostar de Espanha e dos espanhóis - em comemorar isso
! E cada ano !
A afirmação de independência, de identidade própria, faz-se de outras formas !
Os feriados municipais, celebram datas especiais na história de cada um
desses concelhos. Não vejo mal nisso. É o lembrar tradições e valores
culturais regionais, e factos que dão relevo à História local. Tudo
bem.
E os feriados religiosos ?
Mais outra insensatês. Outra incongruência. Um desprezo pela normal laicização do Estado democrático.
Fazem apelo a crenças de apenas uma parte da população cristã : os
católicos. E mesmo assim destes, uma minoria que sustenta convicções
confessionais e que portanto celebra com alguma consciência religiosa o
sentido dessas datas.
São eles, o "Corpo de Deus", a "Assunção de Maria, "Todos os Santos" e "Imaculada Conceição".
A outra parte da igreja cristã, os não católicos, não concorda
com o sentido desses feriados, choca-se com eles e repudia-os mesmo.
Não os celebramos. Mas temos de fazer feriado...! E essa parte de
cristãos, em que me enquadro, não é assim tão reduzida como isso.
Os que não são cristãos, esses só sabem... que é feriado ! Que bom !
Ora, gozar feriados só porque não se é obrigado a estar presente no
quadro institucional em que insere, Empresa, Educação, Administração
Pública, etc, não faz sentido nenhum.
É próprio, aliás, de uma sociedade hedonista, motivada prioritariamente para o lazer...
Uma cidadania tem de ser consciente, coerente, participativa. E os
feriados não são uma smples medida esporádica de higiene social, física e
mental. São um peso para a economia. Têm de ter um mínimo de
razoabilidade.
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