domingo, 20 de janeiro de 2013

Falar e Pensar

A Língua Portuguesa tem formulações curiosas.

    Como todas as Línguas.  Particularmente as que têm um passado substancial e que serviram uma Cultura com muita História.  Como é o caso da nossa.

    Aquilo a que vou referir-me não tem um cariz linguístico, mas antes "socio-linguístico".

    Deixo aqui este pequeno registo mais como curiosidade.  E também como chamada de atenção, para os "locutores" que somos todos nós.

    E porque, aquilo que vou contar, no fundo trata-se de um erro que -  como tal  -  deve ser evitado.  Arranjemo-nos seja lá como for...

    Num dia de temporal desfeito, uma grua caiu sobre uma moradia.  Uma casa modesta, de gente sem grandes recursos.

    A jornalista da Televisão, amável, simpática, aborda a proprietária na rua, uma senhora já com alguma idade, com ar abatido, depois do acidente que a deixou na rua...E, vá lá... viva  !

    A jornalista dispara-lhe :

    ""Muito bom dia !...   Conte-nos por favor o que sentiu quando o acidente ocorreu.»

    Não consegui ouvir mais nada.  Fiquei a cogitar na saudação da jornalista.  Saudação espúria. Inoportuna. Quase ofensiva.

    Como é possível, com a maior naturalidade e àvontade, desejar "bom dia" a uma pobre cidadã vítima de um acidente grave, de que saiu ilesa nem se sabe como... ?!

    Outra.

    Numa cerimónia fúnebre.

    A urna contém os restos mortais de uma pessoa cujos familiares, chorosos, abatidos, esperam a sequência dos preceitos.

    Alguém se prepara para dirigir, pubicamente, umas palavras de circunstância.

    E lança em voz sonora :

    "Muito bom dia a todos.  Estamos aqui..."  Etc.

    Bom dia... ?!  Como podem tê-lo aquelas pessoas que choram acabrunhadas a ausência fulminante de um ente muito querido ?

    Não haverá, em português, outra fórmula social de cumprimento ?  "Minha senhora...".  "Meus senhores, minhas senhoras..."  ?  Sei lá !

    Chamam-se-lhes  "bordões linguísticos", de comunicação. 

    Dizem-se sem pensar no que se profere.   Não é por hipocrisia.  Servem, para o locutor, de apoio ao que pretende dizer a seguir.  E que talvez lhe custe um pouco expressar...

    Só que... para o(s)  recetor(es)  -  conforme as situações  -  pode ser chocante !   E agressivo !

    «...há tempo de estar calado e tempo de pensar...»   Livro do Eclesiastes ( A Bíblia ) 3 : 7.

    Falar e Pensar.  Eis uma simultaneidade inalienável...


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