Falar e Pensar
A Língua Portuguesa tem formulações curiosas.
Como todas as Línguas. Particularmente as que têm um passado substancial e que serviram uma Cultura com muita História. Como é o caso da nossa.
Aquilo a que vou referir-me não tem um cariz linguístico, mas antes "socio-linguístico".
Deixo aqui este pequeno registo mais como curiosidade. E também como chamada de atenção, para os "locutores" que somos todos nós.
E porque, aquilo que vou contar, no fundo trata-se de um erro que - como tal - deve ser evitado. Arranjemo-nos seja lá como for...
Num dia de temporal desfeito, uma grua caiu sobre uma moradia. Uma casa modesta, de gente sem grandes recursos.
A jornalista da Televisão, amável, simpática, aborda a proprietária na rua, uma senhora já com alguma idade, com ar abatido, depois do acidente que a deixou na rua...E, vá lá... viva !
A jornalista dispara-lhe :
""Muito bom dia !... Conte-nos por favor o que sentiu quando o acidente ocorreu.»
Não consegui ouvir mais nada. Fiquei a cogitar na saudação da jornalista. Saudação espúria. Inoportuna. Quase ofensiva.
Como é possível, com a maior naturalidade e àvontade, desejar "bom dia" a uma pobre cidadã vítima de um acidente grave, de que saiu ilesa nem se sabe como... ?!
Outra.
Numa cerimónia fúnebre.
A urna contém os restos mortais de uma pessoa cujos familiares, chorosos, abatidos, esperam a sequência dos preceitos.
Alguém se prepara para dirigir, pubicamente, umas palavras de circunstância.
E lança em voz sonora :
"Muito bom dia a todos. Estamos aqui..." Etc.
Bom dia... ?! Como podem tê-lo aquelas pessoas que choram acabrunhadas a ausência fulminante de um ente muito querido ?
Não haverá, em português, outra fórmula social de cumprimento ? "Minha senhora...". "Meus senhores, minhas senhoras..." ? Sei lá !
Chamam-se-lhes "bordões linguísticos", de comunicação.
Dizem-se sem pensar no que se profere. Não é por hipocrisia. Servem, para o locutor, de apoio ao que pretende dizer a seguir. E que talvez lhe custe um pouco expressar...
Só que... para o(s) recetor(es) - conforme as situações - pode ser chocante ! E agressivo !
«...há tempo de estar calado e tempo de pensar...» Livro do Eclesiastes ( A Bíblia ) 3 : 7.
Falar e Pensar. Eis uma simultaneidade inalienável...
Etiquetas: Falar
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial