Comendo sal...
Só a frase em si é chocante pela denúncia que supõe de uma dietética errada e agressão ao bem comer.
Mas o certo é que ela está na Bíblia ! Num contexto que nada tem a ver com alimentação.
No início do livro dos Atos dos Apóstolos, 1 : 3 e 4, lemos que Jesus,
«...depois de ter padecido se apresentou vivo com mutias provas aparecendo ( aos discípulos ) durante quarenta dias, falando com eles sobre Reino de Deus e comendo sal com eles, ensinando-os...».
Ora os Tradutores bíblicos em geral, transpõem a frase sublinhada apenas para "comendo com eles", ou "estando à mesa com eles", eliminando "sal" e evitando assim a complexidade hermenêutica do enunciado.
Até mesmo o Padre Chouraqui, ( francês ) deliberadamente literalista como é, cedeu aí à legibilidade, e fez o mesmo que os outros todos.
Ora Joseph Ratzinger ( Bento XVI ), na sua segunda parte de "JESUS DE NAZARÉ", analisa e explica essa expressão de Lucas, o médico.
E pensei em deixar aqui a ideia.
No Texto grego está «synalizómenos», que significa «comendo sal com eles».
O sal é, por um lado, um garante de durabilidade, um impeditivo de corrupção.
E por outro lado - e por isso mesmo - em Levítico, ( 2: 13, cp com outras passagens ) no Velho Testamento, na Torah, os israelitas eram avisados de que as Ofertas ao Senhor deveriam ser "temperadas com sal".
O Senhor Jesus ressucitado, tendo vencido a Morte pela Ressurreição, é a Oferta divina por todos nós, que assim pela Fé, arrependidos e crendo nele, somos perdoados do Pecado, regenerados, beneficiando de uma Aliança permanente, incorruptível, com Deus, por Cristo.
O sal é símbolo que expressa essa comunhão com o Resuscitado, numa nova Aliança de Vida com Deus.
Lucas teve o cuidado de introduzir ( diria "subliminarmente" ) no Texto essa nota doutrinal de profundo significado e que os Tradutores ( todos eles ) fizeram perder-se, para ganharem em fluência de leitura...
Ratzinger comenta a frase original com clareza.
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