A bênção do comboio
Ao arrumar os meus arquivos de "recortes" dei com este que merece a pena relembrar :
Quando da inauguração do comboio da Ponte sobre o Tejo o governo de então convidou o bispo de Setúbal para dar a sua bênção. Coisa aliás a que não se assistia já há anos ! Mas deu-se.
Alguém se lembrou então de um Poema de Guerra Junqueiro, da VELHICE DO PADRE ETERNO, "A Bênção da Locomotiva."
E este. Fica mesmo a calhar...
A BÊNÇÃO DA LOCOMOTIVA
A obra está completa. A máquina flameja
desenrolando o fumo em ondas pelo ar.
Mas antes de partir, mandam chamar a Igreja,
que é preciso que um bispo a venha batizar.
Como ela é com certeza o fruto de Caim,
a filha da razão, da independência humana,
botem-lhe na fornalha uns trechos de latim,
e convertam-na à fé católica roamana.
Devem nele existir diabólicos pecados,
porque é feita de cobre e ferro, e estes metais
saiem da natureza, ímpios, excomungados,
como saímos nós dos ventres maternais !
Vamos, esconjurai-lhe o demo que ela encerra,
extraí a heresia do aço lampejante !
Ela acaba de vir das forjas d'Inglaterra,
e há de ser com certeza um pouco protestante.
Para que o monstro corra em férvido galope,
como um sonho febril, num doido turbilhão,
além do maquinista é necessário o hissope
e muita teologia... além d'algum carvão.
Atirem-lhe uma hóstia à boca famulenta,
preguem-lhe alguns sermões, ensinem-lhe a rezar,
e lancem na caldeira um jarro d'água benta,
que com água do céu talvez não possa andar.
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial