Remição / Remissão
Uma questão bíblico-linguística que merece atenção :
a alternativa semântica entre REMISSÃO e REMIÇÃO
No normativo Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa vemos :
Remissão : Acção de perdoar.
Clemência, misericórdia, concedida a uma falta, um pecado.
Acção de adiar, de diferir.
Remição : Acção de remir, ou remir-se.
Processo de readquirir alguma coisa.
Libertação do cativeiro, da submissão a um poder alheio, ( resgate ).
Compensação devida por danos ou prejuízos causados. ( Indemnização, reparação ).
Processo de se libertar, ou de libertar alguém de uma dívida mediante o seu pagamento.
( Rel. ) Perdão de faltas, pecados crimes, através da expiação.
Há Versões Bíblicas que fogem de certo modo à questão e põem por exemplo : "perdão de pecados", em lugar de remição : Isso acontece com a Boa Nova, com a dos Capuchinhos, e com a NVI. A expressão "perdão dos pecados" não expressa obviamente toda a carga semântica e teológica de "remição" ( '´afesis”, no grego ).
Será de notar que haverá conceitos na Bíblia que poderão ser expressos por "remissão". A questão fulcral é que "remição" implica a existência de um pagamento, implica a "aquisição onerosa de um direito para se alcançar uma desobrigação", como escreve alguém que se debruçou sobre o assunto ( e cujo texto posso enviar em fotocópia, via postal, se desejarem : «Muitos dos vencidos de Alcácer Quibir lograram a remição ( não “remissão” ) do cativeiro mercê da entrega de avultadas somas exigidas pelos mouros (... )».
Remição é pois um conceito com forte carga jurídica ( que remissão não tem ). E o que se passou na Cruz do Calvário foi basicamente um acto de profundo significado jurídico de perspectiva divina. O preço do perdão e da Salvação, exigida pela divina Justiça, foi pago, ( e de que maneira ! ) pelo nosso Amado Salvador. Não se tratou apenas de um mero perdão de pecados, de esquecimento, fruto de clemência divina.
O serviço linguístico CIBERDÚVIDAS, deu já há tempos, uma resposta que pode consultar-se aqui.
Quando nesse esclarecimento o especialista linguísta lança como exemplo a frase : «Sem confissão não há remissão de pecados» , está a referir-se a um texto de Antero de Quental, e será, muito provavelmente, uma corrupção de - como bem sabe -Hebreus 9 : 22 - «Sem derramamento de sangue não há remissão ( melhor : remição ) de pecados ».
Etiquetas: Bíblia
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