sexta-feira, 27 de abril de 2012

Estatuto de Pastores




      As reflexões que se seguem são feitas num espírito de muito respeito e de amor fraterno pelos nossos Irmãos que assumem a grande responsabilidade  de Pastores.


     Ouvi,  há uns tempos, um pastor, no meio da sua pregação, a propósito do direito a tempos de descanso no trabalho profissional,  ao nomear umas quantas profissões correntes, referir os pastores.


     Julgo que não está certo.  Não subscrevo essa posição.


     O "Pastor", evangélico, que a Bíblia ( no Novo Testamento ) também designa por "presbítero", "ancião", "bispo"  não tem, não pode ter, não deve ter o mesmo estatuto de um cidadão trabalhador normal.  O Pastor exerce, perante a Sociedade, e perante o Estado, uma atividade livre, "liberal" se quisermos.  Tem  - tem com certeza  -  os mesmos direitos de caráter social, e está inscrito na Segurança Social.  Com o seu direito a Reforma, etc. 
  Pode saber exercer uma  determinada profissão em que se terá formado na sua juventude : mecânico, pintor, professor, etc.  Contudo não é um "trabalhador" como os outros.  Como Pastor ele tem um Estatuto especial, específico, superior, que não se enquadra na Sociedade como atividade profissional exatamente como outra qualquer.  Também não é um "trabalhador religioso".  Não é um profissional da religião. Acho mesmo que até essas designações aplicadas a um Pastor contêm algo de pejorativo...
  O Pastor  não é um gestor de igrejas.  Tal como o nome sugere ele exerce um munus espiritual  -  de alto relevo e responsabilidade  - à semelhança de um pastor de gado :  vigilante, protetor, condutor.  E a tempo inteiro !   Diria até, 24 horas por dia...


      Um pastor de gado não diz : "Agora tenho 1 h de almoço para mim.  É o meu direito.  As ovelhas que se cuidem elas próprias..."   Ou : ao fazer 6, ou 8 horas de trabalho não diz.: "Agora, não é mais comigo. Que venha outro pastor.  Eu preciso do meu descanso.  É o meu direito" !   Um Pastor de igrejas locais muito menos o diz… 


       São Pedro na sua Primeira Carta "Universal", 5 : 2 e 3.  certamente lembrado da cena narrada em João 21, escreveu assim dirigindo-se aos Pastores :
       «Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força ( ou seja : num esquema de legalidade ( cp 1 Cor 9 : 17 ) mas voluntariamente ( = espontaneamente, com inteira dedicação ), nem por torpe ganância ( = não olhando aos direitos pessoais ) mas de ânimo pronto.  Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus mas servindo de exemplo ao rebanho».


       A nossa oração é que o nosso Deus esclareça, forme, modele, encoraje, renove, os Pastores, os quais assumem tanta responsabilidade, de acordo com a chamada que tiveram de entrega total das suas vidas, com as Esposas.


      Ao fazer estas reflexões receio melindrar alguns Pastores.  Mas faço-as com um sentimento de muito respeito, e afeto fraterno honra e glória de Deus nesta Terra, para serem instrumentos, com Cristo e com a Palavra de Deus, de edificação e de transformação de vidas e da própria Sociedade em que vivemos em vistas da realização plena do Reino de Deus.


      Os Pastores  -  escrevo deliberadamente com maiúscula  -  não são consagrados, repito, para serem "funcionários de Deus", ou "empregados da religião".


      A observação crítica que estou fazendo não tem ímplicita nenhum sentimento negativo.  Falamos como crentes com o Amor de Deus e  sentimento fraterno e a humildade que tem de predominar nas nossas relações dentro do Corpo de Cristo.


      Ser Pastor é uma função superior.  De entrega.   Foi uma opção que foi feita na sua vida, em Cristo, de manifestar Cristo ao mundo.  E também, certamente, de luta espiritual diária.


      Todos os crentes o são,  dir-me-ão.


       Claro que sim.  Mas os Pastores  têm a redobrada responsabilidade de o serem  exemplarmente.    «Sede meus imitadores  -  dizia São Paulo  -  assim como eu sou de Cristo».   1 Cor 11 : 1.  E 2 Tess 3 : 8 e 9 «…mas para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes».


       E se o exercício do seu munus os torna exaustos, os debilita, é porque há algo a rever e a corrigir na sua vivência e no sábio equilíbrio entre descanso e labor.  E o diabo está atento...


     O Pastor deveria saber gerir o seu mandato espiritual com Cristo vivendo nele, com a sua Esposa e Filhos, de forma equilibrada entre a pressão dos apelos e das responsabilidades por um lado, e por outro a comunhão refrescante e renovadora pelo Espírito Santo com o Senhor Jesus,  através das Escrituras.


     Não se deverá negar aos Pastores que gozem um tempo, ou "tempos", de retiro com a Família e os Filhos, durante o exercício da sua Atividade específica.  É mesmo um dever da sua parte o retirarem-se por determinados períodos, em consenso com a igreja, para reflexão, para leitura e para aprofundamento de ideias, para enriquecimento e apoio afetivo à sua Família.  Com certeza.  ( Sem forçosamente serem férias laborais, como “empregados de uma empresa, que tomam  o seu mês de férias como direito laboral…).


     Um Pastor vive em permanência atento e disponível para trazer a Vida de Cristo ao seu Rebanho.  E ao Mundo.  Sem horários.  Satanás também os não tem.   Porque o Pastor não é um administrador de igrejas locais, já o dissemos.


      A igreja onde se insere pode certamente tomar em conta alguns sintomas de debilidade ou de fraqueza que ele possa evidenciar, eventualmente, e quando atinge certa idade ( 65 ou mais... ).  E tomar as providências justas e adequadas em relação ao Pastor  Mas este não se reforma para "enfim levar a vida que quer e como quer, de descanso, sem responsabilidades..."  tendo em consideração, claro, as disposições legais da Segurança Social quanto à aposentação de quem trabalha por conta de uma entidade.


      Para além de que os seus próprios colaboradores ( anciãos e pregadores ) se dedicam à presença e ajuda na congregação dentro do seu próprio tempo de atividade profissional e no de férias, quando as têm.   


      Entre os antigos Pastores, de há umas décadas, não se mencionava sequer o "tomar férias" como um direito laboral !  Mas quando o Casal pastoral se retirava uns tempos, com os Filhos, não regularmente, para descanso, todos compreendiam e aceitavam.   Porque é que houve alteração ?  Receio que uma certa mentalidade menos própria do Estatuto de Pastor, possa pairar no seio da Igreja de Cristo. 


     Sobretudo, em relação aos Pastores, para além de estarmos gratos a Deus pela sua consagração, devemos orar regularmente e com premência, por eles, pelas suas Esposas e Família. E dar-lhes o apoio espiritual, moral e afetivo que estiver ao nosso alcance, ao alcance de toda a Congregação.  2 Coríntios 1 : 11, ( aplicado aos Pastores ).

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