Estatuto de Pastores
Ouvi, há uns tempos, um pastor, no meio da sua pregação, a propósito do direito a tempos de descanso no trabalho profissional, ao nomear umas quantas profissões correntes, referir os pastores.
Julgo que não está certo. Não subscrevo essa posição.
O "Pastor", evangélico, que a Bíblia ( no Novo Testamento ) também designa por "presbítero", "ancião", "bispo" não tem, não pode ter, não deve ter o mesmo estatuto de um cidadão trabalhador normal. O Pastor exerce, perante a Sociedade, e perante o Estado, uma atividade livre, "liberal" se quisermos. Tem - tem com certeza - os mesmos direitos de caráter social, e está inscrito na Segurança Social. Com o seu direito a Reforma, etc.
Pode saber exercer uma determinada profissão em que se terá formado na sua juventude : mecânico, pintor, professor, etc. Contudo não é um "trabalhador" como os outros. Como Pastor ele tem um Estatuto especial, específico, superior, que não se enquadra na Sociedade como atividade profissional exatamente como outra qualquer. Também não é um "trabalhador religioso". Não é um profissional da religião. Acho mesmo que até essas designações aplicadas a um Pastor contêm algo de pejorativo...
O Pastor não é um gestor de igrejas. Tal como o nome sugere ele exerce um munus espiritual - de alto relevo e responsabilidade - à semelhança de um pastor de gado : vigilante, protetor, condutor. E a tempo inteiro ! Diria até, 24 horas por dia...
Um pastor de gado não diz : "Agora tenho 1 h de almoço para mim. É o meu direito. As ovelhas que se cuidem elas próprias..." Ou : ao fazer 6, ou 8 horas de trabalho não diz.: "Agora, não é mais comigo. Que venha outro pastor. Eu preciso do meu descanso. É o meu direito" ! Um Pastor de igrejas locais muito menos o diz…
São Pedro na sua Primeira Carta "Universal", 5 : 2 e 3. certamente lembrado da cena narrada em João 21, escreveu assim dirigindo-se aos Pastores :
«Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força ( ou seja : num esquema de legalidade ( cp 1 Cor 9 : 17 ) mas voluntariamente ( = espontaneamente, com inteira dedicação ), nem por torpe ganância ( = não olhando aos direitos pessoais ) mas de ânimo pronto. Nem como tendo domínio sobre a herança de Deus mas servindo de exemplo ao rebanho».
A nossa oração é que o nosso Deus esclareça, forme, modele, encoraje, renove, os Pastores, os quais assumem tanta responsabilidade, de acordo com a chamada que tiveram de entrega total das suas vidas, com as Esposas.
Ao fazer estas reflexões receio melindrar alguns Pastores. Mas faço-as com um sentimento de muito respeito, e afeto fraterno honra e glória de Deus nesta Terra, para serem instrumentos, com Cristo e com a Palavra de Deus, de edificação e de transformação de vidas e da própria Sociedade em que vivemos em vistas da realização plena do Reino de Deus.
Os Pastores - escrevo deliberadamente com maiúscula - não são consagrados, repito, para serem "funcionários de Deus", ou "empregados da religião".
A observação crítica que estou fazendo não tem ímplicita nenhum sentimento negativo. Falamos como crentes com o Amor de Deus e sentimento fraterno e a humildade que tem de predominar nas nossas relações dentro do Corpo de Cristo.
Ser Pastor é uma função superior. De entrega. Foi uma opção que foi feita na sua vida, em Cristo, de manifestar Cristo ao mundo. E também, certamente, de luta espiritual diária.
Todos os crentes o são, dir-me-ão.
Claro que sim. Mas os Pastores têm a redobrada responsabilidade de o serem exemplarmente. «Sede meus imitadores - dizia São Paulo - assim como eu sou de Cristo». 1 Cor 11 : 1. E 2 Tess 3 : 8 e 9 «…mas para vos dar em nós mesmos exemplo, para nos imitardes».
E se o exercício do seu munus os torna exaustos, os debilita, é porque há algo a rever e a corrigir na sua vivência e no sábio equilíbrio entre descanso e labor. E o diabo está atento...
O Pastor deveria saber gerir o seu mandato espiritual com Cristo vivendo nele, com a sua Esposa e Filhos, de forma equilibrada entre a pressão dos apelos e das responsabilidades por um lado, e por outro a comunhão refrescante e renovadora pelo Espírito Santo com o Senhor Jesus, através das Escrituras.
Não se deverá negar aos Pastores que gozem um tempo, ou "tempos", de retiro com a Família e os Filhos, durante o exercício da sua Atividade específica. É mesmo um dever da sua parte o retirarem-se por determinados períodos, em consenso com a igreja, para reflexão, para leitura e para aprofundamento de ideias, para enriquecimento e apoio afetivo à sua Família. Com certeza. ( Sem forçosamente serem férias laborais, como “empregados de uma empresa, que tomam o seu mês de férias como direito laboral…).
Um Pastor vive em permanência atento e disponível para trazer a Vida de Cristo ao seu Rebanho. E ao Mundo. Sem horários. Satanás também os não tem. Porque o Pastor não é um administrador de igrejas locais, já o dissemos.
A igreja onde se insere pode certamente tomar em conta alguns sintomas de debilidade ou de fraqueza que ele possa evidenciar, eventualmente, e quando atinge certa idade ( 65 ou mais... ). E tomar as providências justas e adequadas em relação ao Pastor Mas este não se reforma para "enfim levar a vida que quer e como quer, de descanso, sem responsabilidades..." tendo em consideração, claro, as disposições legais da Segurança Social quanto à aposentação de quem trabalha por conta de uma entidade.
Para além de que os seus próprios colaboradores ( anciãos e pregadores ) se dedicam à presença e ajuda na congregação dentro do seu próprio tempo de atividade profissional e no de férias, quando as têm.
Entre os antigos Pastores, de há umas décadas, não se mencionava sequer o "tomar férias" como um direito laboral ! Mas quando o Casal pastoral se retirava uns tempos, com os Filhos, não regularmente, para descanso, todos compreendiam e aceitavam. Porque é que houve alteração ? Receio que uma certa mentalidade menos própria do Estatuto de Pastor, possa pairar no seio da Igreja de Cristo.
Sobretudo, em relação aos Pastores, para além de estarmos gratos a Deus pela sua consagração, devemos orar regularmente e com premência, por eles, pelas suas Esposas e Família. E dar-lhes o apoio espiritual, moral e afetivo que estiver ao nosso alcance, ao alcance de toda a Congregação. 2 Coríntios 1 : 11, ( aplicado aos Pastores ).
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